quinta-feira, 30 de novembro de 2023

 2º Dia  - Início de uma saga cheia de reviravoltas, interrogações e muito medo

30 de novembro de 2019 (Sábado)

Você sabia que quando o atestado de óbito não traduz a realidade da morte, ele ofende a moral da família? Omitir a causa básica é crime! Negar as circunstâncias, principalmente envolvendo questões sanitárias, quando a notificação é obrigatória e compulsória, é crime. No caso de minha mamy, depois de cinco (ou mais) infecções hospitalares, foi registrado no óbito o que se chama de causa terminal ou imediata, o momento final. Acontece que de acordo com a legislação e os manuais, o mais importante é o evento que iniciou o processo de morte.

Mas esse capítulo já seria o final da saga, tipo spoiler. Nesse segundo dia, ela ainda estava na emergência, aguardando uma vaga de internação, que se não me falha a memória demorou mais de 24 horas. Estávamos preocupadas, mas nem por um minuto imaginávamos que de lá ela não sairia viva. Acostumadas às tais intercorrências na saúde, em quantidade e gravidade, a avaliação é que ao final tudo daria certo. Ela estava sem febre, e a saturação 98%. Ou seja, se fosse infecção, não ter febre era um bom sinal. E aos 81 anos, portadora de DPOC, a oxigenação estava muito boa.

Ali na tal ala laranja da emergência, sua história final começou a ser escrita, com as anotações no que chamam de prontuário médico, mas na verdade é o prontuário do paciente. Um conjunto de documentos padronizados, ordenados e concisos, destinados ao registro de todas as informações referentes aos cuidados médicos e paramédicos prestados ao paciente. Hoje conquistei o tal distanciamento necessário para ler, reler o prontuário de minha mãe. Uma história, ao que me parece, cheia de curiosidades e de mistérios.

Os primeiros sistemas de prontuário eletrônico começaram a surgir nos Estados Unidos a partir dos anos 60 (Século XX), desenvolvido por Larry Weed. No Brasil, foi em 2002 que o Conselho Federal de Medicina (CFM) delimitou as características que esse documento deveria apresentar. O principal objetivo? Modernizar o trabalho das unidades de saúde e facilitar o acesso às informações dos pacientes. Ele traz agilidade, mas por vezes é manuseado pela equipe médica como um mero registro de dados, e requer uma gestão de qualidade, de modo a não comprometer o acompanhamento clínico do paciente.

Logo no início da minha leitura, me chamou a atenção o registro “sem queixas de dor no momento” (da entrada na unidade médica e enquanto aguardava internação). Como assim? Minha mãe reclamava de dor ao menor toque, no corpo inteiro, e esse detalhe nos preocupava particularmente, pois aparentemente não tinha motivo, explicação. Ela passou os três meses de internação com queixa de dores no corpo inteiro e ao menor toque. O motivo. Não sabemos. Ninguém soube, ninguém explicou. Será que não procuraram a causa? Ou não a encontraram?

#franciscadiniz

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